sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Tá dando doce!


Como cria do subúrbio carioca ,o dia 27 de setembro me traz sempre uma boa lembrança dos tempos de infância.

Era uma balburdia, a horda de pequenos demônios tomavam as ruas correndo de lá para cá, era só o anuncio de que na rua de trás estavam dando doce, que lá ia molecada correndo. Invadiam prédios enlouquecendo os porteiros, irritando os vizinhos... Bons tempos.

Eu estava lá no meio engrossando a multidão, mochila nas costas para poder guardar tudo sem ter que voltar em casa, as vezes de bicicleta para poder chegar nas ruas ruas mais distantes de forma rápida.

Meus pais distribuíam doces, e na véspera ficávamos eu e minha irmã ajudando a encher os saquinhos, e lógico aproveitávamos para comer um ou outro doce que sobrava. Faziamos a distribuição sempre pela manhã e todos na vizinhança já sabiam e ficavam aguardando na portaria do edifício. Dávamos os doces e depois nos juntávamos à molecada na corrida atrás de mais.

Era uma felicidade correr atrás de doces. Em cada saquinho, surpresas que faziam a festa da criançada. Ah, que saudade daqueles doces de que recheavam os sacos de Cosme e Damião! Tinha cocada, branca, preta ou rosa, pé de moleque, cocô-de-rato, bananada, doce de abóbora em forma de coração, doce de batata, dadinho, pingo de leite, chiclete Ploc e/ou Ping-Pong, maria-mole, delicado, jujuba, bala Juquinha, bala de tamarindo, bala Toffe, suspiro, caramelo Embaré, moeda de chocolate, amendoim salgado ou doce, geléia de duas cores (amarela e vermelha), pirulito bola, torrone, paçoca... A cárie e a dor de barriga estavam garantidas!

Havia um terreiro de macumba, ou candomblé ou umbanda, sei lá o termo correto, que apesar das proibições feitas pela maioria das mães, a molecada ia para comer “doces de mesa”. Sempre rolava uma espectativa e um certo receio se algumas daquelas mulheres iam receber um santo bem ali. Era divertido aterrorizar os mais novos dizendo que se eles comessem os doces “pegariam o santo” também.

No fim do dia era chegar em casa e encher os potes com doces e contabilizaros o lucro e comparar com o dos amigos.

Essa é uma das poucas tradições folclórico-religiosas que ainda vejo acontecer em toda a sua efervescência nas cidades grandes, um dos maiores exemplos do sincretismo religioso da nossa cultura.

5 comentários:

Pod papo - Pod música disse...

Eu sempre fui crente então minha mãe também me proibia de aceitar os doces e aqui em casa nem eu e nem ninguém daqui, a gente nunca soube na verdade se essa festa de Cosme e Damião era um evento de católicos, umbanda, camdonblé, etc..(rs)

Beijos!

Sunflower disse...

Lembro demais disso!

Nem sabia que era hj. AGora me deu tristeza, não vi nenhuma senhora entregando bombons, e acho que as crianças tb estão proibidas de aceitar.

Beijas.

ZEPOVO disse...

Nunca aceitei doces de estranhos. Perdi muita coisa...

Fabi disse...

Ah... aqui em casa a frase era a mesma que o Zé Povo deixou... nunca aceite doce de estranhos...
Então nunca pegamos em qualquer ocasião... e até hoje, qd vou comprar algo, não compro em carrinhos de rua, essas coisas assim pq vejo minha mãe dizendo... vc não sabe de onde veio, como foi preparado, pra quem foi consagrado...

Mas na inocência de cça que vc discreve no blog o q vale mesmo são os bolsos cheios de doces.... e ver quem ganhou mais

Anônimo disse...

bate aqui \o_
eu engrossava a multidão de demônios shauhsuahsuahsua
Nossa, eu adorava isso!
E os do centro rs era assim mesmo! Todo mundo com medo mas comendo os "doces de mesa"!
Deu muita vontade de correr nesse que passou...
Beijossss